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04 de outubro de 2023 as 14:54 / Geral

Professora Nilvi Penz, com 81 anos, educadora há mais de 30 anos, concede entrevista ao professor e historiador Alexandre Aguirre

A entrevista que publicamos hoje foi realizada com a dona Nilvi Penz, de 81 anos, Professora da Rede Municipal de Ensino de Ernestina, por mais de 30 anos, natural de Ernestina, moradora da localidade de Esquina Penz, teve apenas um filho, Paulo Penz, atual Vice-prefeito de Ernestina. Ela tem dois netos e dois bisnetos. A Professora Nilvi Penz teve sua vida dedicada ao ensino e à educação, por ela passaram centenas de alunos (as), que hoje lembram com orgulho e admiração da exímia e competente educadora, que exerceu o seu belo ofício com vocação e, sobretudo, paixão pela arte de ensinar, ou seja, a professora Nilvi Penz, cravou o seu nome na história educacional de Ernestina, tornando-se referência aos novos educadores que um dia sonham em trilhar o seu mesmo ofício, do ensinar e do apreender.

“Porque a educação é uma troca onde aprendemos muito mais do que ensinamos. Escolhi ser professora por paixão, sempre me importei com os meus alunos e não somente em transmitir conteúdos, mas sim, em formar pessoas críticas, criativas e inteligentes.”
Prof. Nilvi Penz

AA: O nome dos seus pais? Qual era o trabalho ou oficio realizado pelos seus pais? Quantos irmãos são?

Prof. Nilvi Penz: Alziro Nickorn e Maria Joaquina Nickorn. Meus pais trabalhavam na lavoura, na agricultura. Meus pais primeiro moravam perto de Ernestina, nas terras do Cirilo Ferst, eles trabalhavam de agregado. Mas tarde, meus pais mudaram para a localidade de Esquina Penz, onde moramos hoje. Na época eu tinha cinco anos de idade, quando viemos de mudança, onde hoje é a nossa propriedade. Nós somos em sete irmãos, quatro irmãos e três irmãs, um dos irmãos é falecido. Eu, mais uma irmã e um irmão, moramos na Esquina Penz, os demais residem em Ernestina.

AA: O nome do seu esposo? Quantos anos de casada? Como e onde conheceu o seu esposo?

Prof. Nilvi Penz: Celson Penz. Nosso casamento completou 61 anos, do nosso enlace matrimonial que ocorreu na Vila Ernestina. Nós já se conhecíamos desde os tempos da escola, quando éramos colegas na Escola Osvaldo Cruz, na Esquina Penz. Mais tarde se conhecemos melhor, durante o terço da Igreja São Francisco na noite de Natal, isso nos idos da década de 60. Se conhecemos e namoramos por dois anos, após esse período casamos e, estamos até hoje casados, ou seja, no último dia 01 de setembro de 2023, completamos 61 anos de casados.

A professora Nilvi Penz, lembra que a sua neta Eduarda Tavares (Duda), foi comprar um bolo para celebrar os 61 anos de casamento, a pessoa que lhe atendeu ficou de boquiaberto quando ela disse que era para colocar em cima do bolo o número 61, achou que ela estava brincando, pois hoje em dia, as relações não são mais tanto duradouras como antigamente, muito menos se vê alguém celebrar 61 anos de união matrimonial. Hoje é uma relação instantânea, tudo muito rápido, muito pouco amor entre as pessoas, afirma a professora Nilvi Penz. Durante essa pergunta, seu Celson Penz, comentou que no primeiro momento a dona Nilvi Penz, escapava dele, depois se acertamos (sorrisos).

AA: A senhora sempre foi professora ou teve outro ofício?

Prof. Nilvi: Primeiro trabalhei com o meu pai na lavoura. Foi construída uma escola na época, porém não vinha nenhuma professora de Passo Fundo para lecionar, por esse motivo, a Secretaria Municipal de Educação de Passo Fundo, convidou eu para estudar na Escola Rocha Pombo, que situava-se na rua 15 de novembro, em Passo Fundo, administrada pela Prefeitura Municipal, onde era uma escola responsável pelo curso de formação de professores. Na época meus pais autorizaram que eu fosse morar e estudar em Passo Fundo, para estudar e fazer o curso, após um ano, voltei para casa professora, daí comecei a lecionar na Escola Felipe dos Santos, a qual trabalhei por quase 30 anos.

AA: Porque a senhora escolheu ser professora?

Prof. Nilvi Penz: Como na época não tinha nenhuma pessoa que quisesse ir até Passo Fundo fazer o curso de formação de professor, eu acabei indo e cursando por um ano, daí após o termino do curso, voltei e assumi o trabalho como professora na Escola Felipe do Santos, ou seja, comecei a lecionar em 15 de janeiro de 1960. Antes de assumir, tinha uma professora que venho lecionar, porém não deu certo e solicitou para sair, a partir disso, assumi eu a turma.

AA: O nome das escolas que a senhora trabalhou, em Ernestina?

Prof. Nilvi Penz: Escola Felipe dos Santos. Também trabalhei em uma escola que ficava próxima da ERS-153, não recordo o nome agora. Trabalhei também na Escola Osvaldo Cruz, na Esquina Penz, quando alguma professora adoecia, eu ia lá substituir. O meu deslocamento até as escolas era sempre a pé, nós tínhamos automóvel na época, caminhava 4km até chegar na Escola Osvaldo Cruz. Na Escola Felipe dos Santos que lecionei por mais de 30 anos, de onde eu morava a escola ficava uma distância aproximada de 7 km até chegar na escola. Nunca faltei um dia de aula, seja em dia de chuva, sol quente, geada ou frio, sempre pegava a estrada rumo a escola, pois na época lecionava para uma turma de 50 a 60 alunos. Na Escola Felipe dos Santos, trabalhei por 30 anos, porém nunca tive nenhum problema com alunos, pois todos me respeitavam. No início que comecei trabalhar na escola, além de lecionar, eu tinha que preparar a merenda para os alunos, pois nesse período ainda a escola não contava com alguém para preparar a merenda. Também a limpeza da escola era realizada por mim, até que foi contratada uma funcionária.

AA: Quais as principais diferenças da educação do seu tempo, comparada com a educação dos dias atuais?

Prof. Nilvi Penz: A diferença é grande, pois na época não tínhamos folga, trabalhávamos também no sábado, aliás hasteávamos a bandeira todos os sábados e cantávamos o hino nacional. No final da tarde tinha que retornar na escola para recolher a bandeira. Na época os livros eram bem escassos, lembro que na época participei de um curso de leitura, daí recebi sete livro para fazer um cantinho da leitura, porém os livros não eram suficientes para todos os alunos, pois tinham que se revessarem na leitura. Eram sempre os mesmos livros, o que as crianças acabavam enjoando de ler sempre a mesma coisa.

Na época os alunos respeitavam mais os professores, bem diferente dos dias atuais. Eu nunca tive problema com alunos, pois eram todos bem disciplinados, ou seja, iam para escola para aprender. Na época não tínhamos toda essa tecnologia que tem hoje à disposição, era apenas o quadro negro e o giz, além de ter em uma única sala de aula, mas com várias series com conteúdos diferentes. Lembro que em dia de chuva, quando a maioria dos alunos vinha para escola de pés descalços e cheio de barro, na porta da sala de aula, era deixado uma bacia com água morna para que os alunos lavassem os pés antes de entrar nas dependências da escola, também era deixado um calçado no lado da porta para os alunos colocarem antes de acessar a escola, isso era uma maneira de deixar a sala de aula e a escola limpa. Os materiais escolares os alunos traziam em mochilas feitas de pano ou em embalagens plásticas. Também lembro que na época não tinha energia elétrica ainda, para eu preparar as minhas aulas era através do lampião para iluminar a casa.

Outra coisa, nos meus 30 anos de atuação como professora nunca faltei um dia sequer. Apenas quando tive meu filho que ganhei 30 dias de licença maternidade.
Lembro que para ir lecionar eu ia a pé até a escola, levava nos meus braços o meu filho junto, chegando na escola, tinha um quartinho que deixava com uma menina que cuidava dele, enquanto eu dava aula para os alunos. Lembro que a minha mãe fez um colchão, daí tinha um travesseiro e um cobertor, onde o meu filho ficava até o encerramento da aula, pois não tinha como deixar em casa, pois meus pais trabalhavam na lavoura. Independente que o tempo estivesse frio ou chovendo, meu filho sempre ia junto comigo para escola com mochila e sombrinha, depois de certo tempo, ele ficava em uma vizinha próxima da escola com uma cuidadora. Quando participava dos cursos de formação, sempre levava o meu filho junto comigo. Mais tarde o meu filho já grandinho, ele já ia com os meus pais trabalhar na lavoura.

AA: O que a fé significa para a senhora?

Prof. Nilvi Penz: Sem fé em Deus a gente não consegue viver. Em primeiro lugar, sempre temos que ter fé, a minha religião quando ainda era solteira eu era luterana, após o casamento mudamos para religião católica, até para não termos duas religiões em uma mesma casa, por isso unificamos. Também fui catequista por longos anos. Ia uma a três vezes por semana para administrar a catequese na igreja na Esquina Penz, também fazia esse caminho a pé. Tenho um ex-aluno meu, que hoje ele é Padre, foi meu aluno na Escola Felipe dos Santos.

AA: Fale um pouco como era o modo de vida antigamente, onde era realizada as compras e roupas, já tinha luz elétrica à época?

Prof. Nilvi Penz: Lembro que nós já éramos grandes quando o nosso pai comprou um rádio, pois na época não tínhamos dinheiro para comprar um. Não tínhamos rádio, a única maneira de comunicação com os parentes, era através de escrever cartas, ou seja, o principal meio de comunicação era via carta. À noite tínhamos que fazer o serviço antes que ficasse escuro, após tomar café e ir para cama dormir. As vezes ao meio dia íamos passear nos vizinhos, as vezes quando era aniversário de algum vizinho era reunido toda vizinhança na casa do aniversariante. Também em alguns casos participávamos do filo à noite na casa de algum vizinho. Nesta pergunta, o esposo da dona Nilvi Penz, o seu Celso Penz, lembrou que na época como não havia energia elétrica, a carne de porco era armazenada em uma lata de alumínio com banha, para que a mesma não estragasse e manter conservada.

As compras eram realizadas através de um mascate que vinha com uma carrocinha de Passo Fundo, onde ele comprava de nós queijo, ovos, galinha, ou seja, vendíamos de tudo. Daí os produtos que não tínhamos em nossa propriedade ele trazia de lá para nós. Como por exemplo, ele trazia querosene que era usado em lampiões, açúcar, linha, botões, café entre outros produtos. Algumas coisas comprávamos em uma loja de secos e molhados na Vila Ernestina. Lembro que para ir ao dentista, tínhamos que ir a pé até Ernestina. Em termos de saúde sempre que precisávamos ia a um farmacêutico Kern, na Vila Ernestina, no caso de coisas mais graves, tínhamos que ir a Passo Fundo.

AA: Qual o ensinamento e o legado, a senhora quer deixar para o seu filho, netos e bisnetos?

Prof. Nilvi Penz: Eu sempre peço que eles sempre continuem buscando melhorar de vida, para que não sofra tanto quanto a gente sofreu quando éramos novos. Que eles sempre busquem melhorar o que tem, para viver melhor. Procurar se dá bem com todo mundo, vivendo em harmonia em sua comunidade. Quero que meus netos e bisnetos sigam o caminho do bem, independente da escolha profissional, escolham aquilo que goste e seja feliz. Meu filho Paulo Penz, desde pequeno foi de ajudar os outros, lembro-me de quando eu acordava de madrugada para fazer a vianda para ele levar no trabalho, ele trabalhava em um chiqueirão do Maurício Ferts, ajudava o Nenê Magarinos, isso com 12 anos de idade, ia com a viandinha embaixo do braço a pé e voltava para casa quase no escurecer. Sempre me ajudou nos afazeres da casa, muitas vezes não deixava fazer, ele fazia. O quarto dele, ele sempre arrumou. O meu filho Paulo sempre teve preocupação comigo, eu fazia pão para assar no forno lá fora, quando era noite com chuva, ele me perguntava que eu tinha nó de pinho para colocar no fogo, pois a preocupação do meu filho era que eu não fosse na chuva.

Neste momento, o seu Celso Penz, lembrou que encontrou uma pessoa em Ernestina, o qual perguntou se lembrava dele quando eu estava hospitalizado para fazer uma cirurgia no coração, olha de tanta gente no hospital, não me lembro no momento do senhor, daí ele me perguntou, o senhor tem um filho? Sim, tenho! Quando cheguei lá no quarto do hospital, o seu filho, tinha o senhor no colo dele (neste momento, o seu Celson Penz, embargou a voz e, não conteve às lagrimas), tamanho é o carinho e respeito que o filho Paulo Penz, tem pelo seu pai, seu Celso Penz.

AA: Gostaria de dar um recado final aos nossos leitores e aos seus ex-alunos?

Prof. Nilvi: Primeiro estou muito feliz que no próximo dia 30 de setembro de 2023, vou participar de um encontro promovido pelos meus ex-alunos, vai ser um enorme privilégio poder reencontrá-lo novamente depois de tantos anos, ou seja, vai ser um momento único e muito especial para mim, cuja lembrança guardarei para sempre em minha vida. Desejo para os meus ex-alunos que continuem trabalhando, se cuidando e sejam muito felizes. Nunca tive problema com meus alunos, mas quando ocorria algo, era sempre resolvido na própria escola, sem precisar contar com a presença do pai ou da mãe. Sempre amei ser professora, sinto-me realizada pelo ofício que escolhi, acho gratificante o papel que o educador tem na vida das pessoas e, sobretudo o poder de transformação que a educação tem na vida de qualquer ser humano.

Agradeço do fundo do meu coração a todos os meus ex-alunos pela organização deste encontro e, sobretudo pelo reconhecimento e carinho, em realizar essa homenagem para mim e demais colegas professores e funcionários, não tenho palavras para agradecer, estou muito feliz e grata por tudo. O último conselho que deixo para quem quer seguir a carreira de professor exerça esse ofício com muito carinho, dedicação, vocação e paixão pela arte de ensinar, sendo um verdadeiro mestre.


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